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COP-18: Um recomeço ou um museu de grandes novidades?

Foto: UNclimatechange

Foto: UNclimatechange

Magno Castelo Branco*

Em Doha, capital do Qatar, foi realizada a 18ª Conferência das Partes (COP-18) ­- o braço executivo da Convenção -Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês). Na conferência, decide-se sobre a aplicação e o funcionamento das diretrizes do tratado Protocolo de Kyoto, a implementação dos mecanismos acordados e o cumprimento das metas determinadas. Cada conferência inicia-se com uma agenda preestabelecida, visando dar andamento às atividades colocadas anteriormente e definindo e acordando novas metas e mecanismos.

A COP de Doha começou de maneira tensa. Logo antes da Conferência, a ONU alertou que as emissões de carbono em 2010 foram 14% maiores do que se espera para 2020 caso as metas estabelecidas nas COPs anteriores fossem cumpridas. Ou seja, já se emitiu mais do que o natural aumento esperado para dez anos à frente. Com a continuação desse cenário, é certo que não atingiremos a meta de limitar o aumento médio da temperatura global em até 2 ºC antes de 2100. Aliás, o aumento pode ser de até 5 ºC, com consequências calamitosas e imprevisíveis para boa parte da sociedade.

Além disso, a COP de Doha também carregava outra enorme expectativa: a extensão do Protocolo de Kyoto, cujo primeiro período acaba em 2012. O Protocolo é o principal tratado internacional que estabelece metas e mecanismos de mercado para que os países desenvolvidos e em desenvolvimento consigam, em conjunto, reduzir as emissões globais para os patamares acordados previamente. Sem uma definição clara sobre o futuro de Kyoto após este ano, todo o esforço realizado anteriormente perderia a inércia e cada vez mais a humanidade se distanciaria das metas necessárias para que tenhamos um futuro comum em harmonia com os recursos do planeta em que vivemos.

Entretanto, os representantes dos 190 países envolvidos decidiram pela extensão do Protocolo até 2020. As regras continuam basicamente as mesmas, o que assegura a continuidade do já combalido mercado de carbono e do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Este diz respeito ao financiamento de projetos de reduções de emissões nos países em desenvolvimento.

E por que o mercado de carbono está enfraquecido? Depois de atingir um preço recorde de quase 23 euros por crédito em 2008, as incertezas sobre o futuro do Protocolo e a saída de alguns países do acordo, o valor do crédito de carbono despencou nos últimos anos para centavos de euro. Mesmo com a notícia sobre a continuidade do Protocolo, o valor do crédito continua em queda livre, o que impõe um sério problema: com o valor do crédito baixo assim, diversos projetos de redução de emissões de carbono perdem a sua viabilidade.

Também foram decididos outros assuntos importantes em Doha: os países desenvolvidos vão disponibilizar mais recursos para suportar ações climáticas nos países em desenvolvimento, as metas de temperatura vão passar por um robusto processo de revisão até 2015 e mais recursos serão destinados para o combate ao desmatamento nos países em desenvolvimento e para a educação e capacitação do público em geral. Isto é fundamental para que a nossa sociedade desenvolva a consciência e a vontade de seguir em frente nesse tema que tem se apresentado tão difícil.

No encerramento da COP-18, Christiana Figueres, secretária executiva da UNFCCC, ressaltou que a Conferência abriu novos caminhos para acelerar a luta contra a mudança global do clima: “O mundo agora possui recursos e tecnologia suficientes para atingir as metas. Após Doha, é uma questão de rapidez e determinação para manter a agenda”. Realmente, tecnologia e dinheiro temos. Mas teremos a determinação necessária? Ainda é cedo para dizer…

*Diretor do Departamento de Inventários

O que esperar da conferência climática COP-18?

funbioMagno Castelo Branco*

Localizado na Península Árabe e com uma área de apenas 11,57 mil km2 e 1,85 milhões de habitantes, o Qatar é apenas o 164º país em área do mundo e o 148 mais populoso. Mas os números modestos param por aí. Com uma economia baseada no petróleo e no gás natural, o país possui a maior renda per capita do planeta e o décimo maior IDH da região que engloba a Ásia e a Oceania. Porém, atualmente também é o maior emissor de carbono per capita, emitindo aproximadamente 23 vezes mais carbono per capita do que o Brasil.

E é justamente em Doha, capital do Qatar, que está sendo realizada a 18ª Conferência das Partes (COP-18) ­- o braço executivo da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima. Na conferência, decide-se sobre a aplicação e o funcionamento das diretrizes do tratado Protocolo de Kyoto, a implementação dos mecanismos acordados e o cumprimento das metas determinadas. Cada conferência inicia-se com uma agenda preestabelecida, visando dar andamento às atividades colocadas anteriormente e definindo e acordando novas metas e mecanismos.

A COP de Doha começa de maneira tensa. Logo antes da Conferência, a ONU alertou que as emissões de carbono em 2010 foram 14% maiores do que se espera para 2020 caso as metas estabelecidas nas COPs anteriores fossem cumpridas. Ou seja, se emitiu mais do que o natural aumento esperado para dez anos à frente. Com a continuação desse cenário, é possível que não consigamos atingir a meta de aumento médio da temperatura global em até 2 ºC antes de 2100. O aumento pode ser de até 5 ºC com consequências calamitosas e imprevisíveis para boa parte da sociedade.

Além disso, a COP de Doha também carrega outra enorme responsabilidade: é nela que será decidida a extensão do Protocolo de Kyoto, cujo primeiro período acaba em 2012. O Protocolo é o principal tratado internacional que estabelece metas e mecanismos de mercado para que os países desenvolvidos e em desenvolvimento consigam, em conjunto, reduzir as emissões globais para os patamares acordados previamente. Sem uma definição clara sobre o futuro de Quioto depois deste ano, todo o esforço realizado anteriormente perde a inércia e cada vez mais a humanidade se distancia das metas necessárias para que tenhamos um futuro comum em harmonia com os recursos do planeta em que vivemos.

*Diretor técnico da Iniciativa Verde

O mito do Carbono Zero – Acervo: 29/09/2008

O mito do carbono zero
Publicado em 28.09.2008 no Jornal do Comércio

A denominação carbono neutro, para designar preocupação ambiental, está mais difundida do que nunca. No entanto, pode não passar de propaganda

Angela Fernanda Belfort

Produtos, empresas e até eventos fazem questão de divulgar que são carbono neutro ou carbono zero. Essa denominação se enquadra para aqueles que encontraram uma maneira de neutralizar todas as emissões de carbono, que são feitas quando se produz qualquer coisa – desde um carro até um seminário. As emissões dos gases que contribuem para o efeito estufa, como o carbono, são feitas quando, por exemplo, se queima combustível fóssil. Nessa neutralização, são implantadas ações que reduzem o efeito dessas emissões. O nome carbono neutro está em tantos lugares, mas não existe qualquer órgão público federal ou estadual monitorando se essas iniciativas resultam, de fato, na compensação do que está sendo divulgado.

“Várias dessas empresas fazem do carbono zero uma estratégia de marketing e não se preocupam em comprovar se realmente está ocorrendo a compensação dos gases que elas produziram”, comenta o consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Projetos, Leonardo Ciuffo Duarte. A compensação mais comum que está sendo feita por Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) e consultorias é o plantio de árvores, como forma de compensar a quantidade de carbono ou de gases que provocam o efeito estufa que foram emitidos para a atmosfera. No seu crescimento, as árvores retiram o carbono da atmosfera.

Em São Paulo, já existem pelo menos 10 consultorias que calculam quanto de carbono o plantio de árvores pode sequestrar da atmosfera. “No nosso cálculo, sabemos que uma árvore da Mata Atlântica cresce por 37 anos e durante esse período ela vai sequestrar 190 quilos de gás carbônico. Mas há projetos que dizem que apenas uma árvore absorve de 400 quilos a 1.000 quilos (uma tonelada) de carbono por ano”, disse o diretor de comunicação da Iniciativa Verde, David Dieguez, acrescentando que tem empresas que fazem a compensação de forma correta e “outras não tão corretas”. A Iniciativa Verde é uma Oscip que faz projetos de restauro florestal.

“Defendemos que a secretaria do Meio Ambiente de São Paulo deveria publicar um manual de boas práticas em relação aos programas de compensação de emissões, porque isso iria orientar as empresas que atuam no setor e também a população para acompanhar esses projetos”, comentou Dieguez.

O próprio ministério da Ciência e Tecnologia admite que este é um mercado voluntário e que não há qualquer regulação. “Falta certificação que comprove que está ocorrendo essa compensação do carbono”, comentou o consultor da FGV Projetos. A sugestão dele é que as empresas que fazem esse tipo de iniciativa deveriam utilizar uma metodologia parecida com aquela que é utilizada para que as empresas vendam crédito de carbono. Nesse caso, elas obedecem cálculos que são os mesmos em qualquer lugar do planeta, com variáveis definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e também passam por certificações feitas por auditorias internacionais.

A maioria dos executivos e diretores que trabalham nessa área dizem que as empresas estão aderindo ao carbono neutro principalmente por uma questão de estratégia de marketing, que é interessante para as companhias. A natureza agradece pelo plantio das árvores, mas é difícil ter certeza que as empresas estão neutralizando, realmente, todas as suas emissões.